domingo, 4 de agosto de 2013

Audição

As vias neurais para a audição e as vias para o equilíbrio e orientação espacial estão muito próximas anatomicamente em grande parte do seu trajeto, por isso o acometimento da audição geralmente afeta o equilíbrio e vice-versa. No entanto, quanto ao aspecto fisiológico, o sistema auditivo pode ser considerado isolado de certa forma, o que permite a realização de testes independentes de outros sistemas neurais. Já o sistema vestibular está intimamente ligado com o sistema motor - cerebelo, sistema oculomotor e sistema nervoso autônomo - fazendo com que só possa ser testado indiretamente pelos efeitos secundários sobre as funções oculomotora e cerebelar.
Nesse momento, vou tratar apenas das disfunções auditivas, porém em breve o sistema vestibular ganhará seu espaço no blog também.

Anatomia e Fisiologia

Figura 1: corte coronal do ouvido

As ondas sonoras são transmitidas através da membrana timpânica passando pelo martelo, bigorna e estribo se dirigindo para a janela oval e a membrana basilar da cóclea, imersa em líquido. Ao chegar na membrana basilar da cóclea, as células ciliares ali presentes detectam o movimento vibratório da membrana e o transforma em impulsos nervosos. Esses impulsos alcançam o núcleo olivar superior de ambos os lados, e se dirigem para o giro auditivo transversal localizado na porção superior de cada lobo temporal atravessando os lemniscos laterais e colículo inferior.

Complemento:
  • Martelo, bigorna, estribo: aumentam em torno de 18x o som da membrana timpânica até a janela oval.
  • O som pode alcançar a cóclea pela vibração do osso temporal, mas é um meio menos eficaz.
  • Frequências sonoras detectáveis: entre 20 e 20000 hertz. O limite superior cai com o avançar da idade.
Lesões nas Vias Auditivas

1. Déficit auditivo de condução: ocorre em virtude de uma lesão no ouvido externo ou médio. Caracteriza-se por déficit auditivo semelhantes em todas as frequências e discriminação preservada da fala.

Causas:
  • Impactação do cerúmen do canal externo;
  • Inflamação do ouvido médio (infectada ou não);
  • Otosclerose, traumatismos;
  • Malformações congênitas do ouvido externo e médio;
  • Tumores.
2. Déficit auditivo neurossensorial: decorrente de lesão na cóclea ou no nervo coclear (divisão do nervo vestibulococlear). Nesse caso, o déficit auditivo é desigual entre as frequências, sendo que os tons de baixa frequência são melhor detectados que os tons de alta frequência. Esses pacientes têm também dificuldade em ouvir a conversa misturada com outros ruídos. Diplacusia, recrutamento e declínio total, são 3 manifestações bem características dessa lesão.

Tipos:
  • Surdez Hereditária: de origem genética. A perda auditiva está presente desde o nascimento ou se desenvolve na vida adulta, cujos fatores intra-uterinos contribuintes são infecção, agentes tóxicos, metabólicos, endócrinos, anóxia associada à incompatibilidade Rh e partos difíceis.
  • Surdez Aguda Unilateral: origem bacteriana e/ou viral do labirinto, traumatismo craniano com fratura ou hemorragia para o interior da cóclea, ou oclusão vascular de um ramo terminal da artéria cerebelar inferior anterior. Geralmente reversível.
  • Surdez Subaguda Intermitente: ocorre na Síndrome de Meniêre que, na maioria dos casos, é unilateral e reversível nos primeiros estágios. Episódios abruptos de vertigem, perda de audição flutuante com zumbidos, e sensação de pressão nos ouvidos estão associados.
  • Presbicusia: déficit auditivo neurossensorial em função do envelhecimento, cuja perda de audição é bilateral, gradual e progressiva. Pode ser tanto de condução quanto central pela degeneração das células sensoriais e das fibras nervosas da base da cóclea.
  • Perda de Audição Induzida: se dá em função do barulho alto e contínuo, porém não afeta a discriminação da fala inicialmente.
  • Perda de audição por lesão direta no nervo coclear/ auditivo/ acústico: lesão causada por infecção local ou traumatismo, provocando surdez grave e de início abrupto associada a vertigem se a lesão ocorrer também no nervo vestibular.
  • Surdez por neuromas acústicos: insidiosa, unilateral e progressiva de forma quase imperceptível. Causada por neoplasias benignas do ângulo cerebelo-pontino.
3. Distúrbios auditivos centrais: ocorrem por lesão das vias auditivas centrais por infarto isquêmico, esclerose múltipla, neoplasia ou hematoma. Nesses distúrbios unilaterais, não há comprometimento aos tons puros - definidos por frequência e intensidade - e os pacientes podem compreender a conversação desde que as palavras sejam pronunciadas com clareza em um ambiente silencioso. Já os bilaterais, são menos comuns e ocorrem pela degeneração dos núcleos cocleares por fatores hereditários. 

Exames

1. Exame 'à beira do leito': Comandos em diferentes intensidades (gritos sussurro...) são dados e a resposta é observada. Testes como Rinne e Weber se encaixam aqui.
2. Audiometria: 
- Teste com tons puros: Através de um fone de ouvido, tons puros são emitidos; ou  por um vibrador pressionando o osso temporal. O nível mínimo escutado pelo indivíduo é determinado para cada frequência.
- Teste limiar de recepção de fala: intensidade que o paciente consegue repetir corretamente 50% das palavras apresentadas.
- Teste de discriminação da fala: medida da capacidade do paciente de compreender a fala quando é apresentada em um nível que é facilmente ouvida.
- Teste de equilíbrio de sonoridade binaural alternante: testa o recrutamento, comparando a percepção da sonoridade de tons de intensidades diferentes pelo ouvido patológico e normal.
Teste da queda do tom, da fala distorcida, estimulação dicótica, impedância acústica, timpanometria, e a contração do músculo estapédio e os potenciais auditivos evocados do tronco cerebral (PAETC) também são realizados para avaliar alterações na audição. 

Tratamento
  • Otoesclerose: estapedectomia;
  • Otite média: antibióticos e descongestionantes;
  • Síndrome de Menière: dieta hipossódica e diuréticos;
  • Dispositivos auditivos: déficit auditivo de condução e neurossensorial.

REFERÊNCIAS:

Goldman Lee, Ausiello, Dennis. Cecil, Tratado de Medicina Interna. Guanabara Koogan. 20ª Ed. Rio de Janeiro; 1997. 


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2 comentários:

  1. Música ruim acaba com os três Z: zóio, zuvido e zoreia.
    Música é terapêutica, mas a ruim acaba com o sistema nervoso central cujo entupimento o transforma em sistema de conduto cloacal.

    beijo

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  2. hahahaha, assim me racha a cara!
    Pior que é bem isso mesmo!

    bjs

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